sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Em Memória ...

O poema


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Andresen, Sophia de Mello Breyner Livro Sexto (1962)

Em memória duma colega que fez parte da equipa da Biblioteca Escolar Madalena Sotto e partiu de mansinho ... para ti, Helena Maria Mota Barbosa Patrão, a nossa recordação ...

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