O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Andresen, Sophia de Mello Breyner Livro Sexto (1962)
Em memória duma colega que fez parte da equipa da Biblioteca Escolar Madalena Sotto e partiu de mansinho ... para ti, Helena Maria Mota Barbosa Patrão, a nossa recordação ...
Sem comentários:
Enviar um comentário